BUARQUE, Heloisa Buarque de. "longa vida, o poema". Acesso: <http://www.heloisabuarquedehollanda.com.br/?p=591>
MORICONI, Italo. "3x4: poesia à beira do abismo". In: Matraga, ano I, Rio de Janeiro: nov. de 1996. Acesso: <http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga00/matraga0a07.pdf>
PENNA, João Camillo. "Acontece?". In: Alea: Estudos neolatinos. Rio de Janeiro: UFRJ, jan-jul de 2003. Acesso: <http://www.scielo.br/pdf/alea/v5n1/20350.pdf>
b) Entrevista (Vereda Literária, 2000):
http://www.youtube.com/watch?v=rCEOd1ThIHE
c) Poemas:
ESCRITURA
No escuro eu não apuro
o que de você existe entrelaçado
neste muro: no escuro o que procuro
é a cruz do seu corpo, a cicatriza
o punho, a palma no instante
da abertura, o espaço tão vazio
onde situo, a perda, a ruptura
a veia degolada, e gota a gota
o inútil rumo do meu sangue:
um derrame de ramos feito de sussurros
e esta ferida que não pára
e que tanto me custa descrevê-la
e quanto mais eu grito, mais ela fura:
sanha, descostura de mim – amor
eu sangro aqui, sob a lâmina
de sua fala, assim, punhal
palavra que não seguro e se enterra
até o fundo, até o cabo, em toda a treva
e na esplanada de areia da memória
o que escrevo é somente um risco
um corte que a lembrança acorda
ou este acorde que suas garras tocam.
(in De corpo presente, 1975)
*
*
e cortar as veias
como os repuxos, os reflexos
No escuro eu não apuro
o que de você existe entrelaçado
neste muro: no escuro o que procuro
é a cruz do seu corpo, a cicatriza
o punho, a palma no instante
da abertura, o espaço tão vazio
onde situo, a perda, a ruptura
a veia degolada, e gota a gota
o inútil rumo do meu sangue:
um derrame de ramos feito de sussurros
e esta ferida que não pára
e que tanto me custa descrevê-la
e quanto mais eu grito, mais ela fura:
sanha, descostura de mim – amor
eu sangro aqui, sob a lâmina
de sua fala, assim, punhal
palavra que não seguro e se enterra
até o fundo, até o cabo, em toda a treva
e na esplanada de areia da memória
o que escrevo é somente um risco
um corte que a lembrança acorda
ou este acorde que suas garras tocam.
(in De corpo presente, 1975)
*
Quem escreviver verá
a vida voando
lá fora...............em versos livres
e brancos
enquanto aqui dentro
os exércitos da imaginação
enquanto aqui dentro
os exércitos da imaginação
combatendo na sombra
marcham para a derrota
e são comidos
até o fim pelos cupins
e são comidos
até o fim pelos cupins
pelas traças
e tudo será
uma página virada
do dilúvio
...............e depoise tudo será
uma página virada
do dilúvio
há muitos carnavais
quem escreve sempre alcança
a quem?
...............O quê?
(in longa vida, 1982)
*
Abrir os pulsos
......... as gavetase cortar as veias
enquanto é tempo
de salvar a vida
e impedir que o poema
de salvar a vida
e impedir que o poema
caia
................em si mesmocomo os repuxos, os reflexos
os anúncios
luminosos
que trabalham sempre
com a mesma água
sem o risco das hemorragias.
luminosos
que trabalham sempre
com a mesma água
sem o risco das hemorragias.
(in 3x4, 1985)
*
LUVA DE BOXE
Muito cabelo. Negro
secreto.
..................... Pés de megera
de tanto ódio.
Chupar tudo – todo veneno
sem ter medo de ser tão sujo.
Ir no escuro
...............rasgando o vermelho
chumbo certeiro até o fundo.
E mordendo forte
os próprios dentes
as unhas pretas o último osso.
Enxugando a pele
até a ferida
para que o sangue suba
e então transborde
com tamanha culpa.
Amor. Todos os golpes
de mão fechada no mesmo ponto
para acabar matando
os que têm seu nome.
(in De cor, 1988)
*
(in Duplo Cego, 1997)
*
CAÇAR EM VÃO
secreto.
..................... Pés de megera
de tanto ódio.
Chupar tudo – todo veneno
sem ter medo de ser tão sujo.
Ir no escuro
...............rasgando o vermelho
chumbo certeiro até o fundo.
E mordendo forte
os próprios dentes
as unhas pretas o último osso.
Enxugando a pele
até a ferida
para que o sangue suba
e então transborde
com tamanha culpa.
Amor. Todos os golpes
de mão fechada no mesmo ponto
para acabar matando
os que têm seu nome.
(in De cor, 1988)
*
OLHE PARA TRÁS, COM RAIVA
Cara, ainda em vida, comendo
a carne de rato do próprio rosto.
Cabeça de um, hirsuta, rabo melado
do outro, alternando-se nas pontas
de um corpo imprestável que se rói
por fora. Calda, gritantemente doce!
Néctar não há que alcance, alimente
e cale o arrepio da fome açucarada
que já apodrece o focinho que se volta
morde, bebe e vive de sua cauda pegajosa.
Cara, ainda em vida, comendo
a carne de rato do próprio rosto.
Cabeça de um, hirsuta, rabo melado
do outro, alternando-se nas pontas
de um corpo imprestável que se rói
por fora. Calda, gritantemente doce!
Néctar não há que alcance, alimente
e cale o arrepio da fome açucarada
que já apodrece o focinho que se volta
morde, bebe e vive de sua cauda pegajosa.
(in Duplo Cego, 1997)
*
CAÇAR EM VÃO
Às vezes escreve-se a cavalo.
Arremetendo, com toda a carga.
Saltando obstáculos ou não.
Atropelando tudo, passando
por cima sem puxar o freio –
a galope – no susto, disparado
sobre as pedras, fora da margem
feito só de patas, sem cabeça
nem tempo de ler no pensamento
o que corre ou o que empaca:
sem ter a calma e o cálculo
de quem colhe e cata feijão.
(in Fio terra, 2000)
*
d) Poema inédito do poeta no blog do Instituto Moreira Salles:
http://blogdoims.uol.com.br/ims/c-d-atlantico-por-armando-freitas-filho/
Arremetendo, com toda a carga.
Saltando obstáculos ou não.
Atropelando tudo, passando
por cima sem puxar o freio –
a galope – no susto, disparado
sobre as pedras, fora da margem
feito só de patas, sem cabeça
nem tempo de ler no pensamento
o que corre ou o que empaca:
sem ter a calma e o cálculo
de quem colhe e cata feijão.
(in Fio terra, 2000)
*
EMULAÇÃO
Sua morte empurrou minha mão.
Sua mão pesa sobre a minha
e a faz escrever com ela
não como luva de outra pele
mas como enxerto de outra carne
emperrada, como a vida dela
que parou, e vai apodrecendo
dentro da minha, suando suor igual.
Sua morte empurrou minha mão.
Sua mão pesa sobre a minha
e a faz escrever com ela
não como luva de outra pele
mas como enxerto de outra carne
emperrada, como a vida dela
que parou, e vai apodrecendo
dentro da minha, suando suor igual.
(in Raro mar, 2006)
http://blogdoims.uol.com.br/ims/c-d-atlantico-por-armando-freitas-filho/